Coluna Geremias Pignaton: Padre Francisco
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Os combonianos trabalharam em Ibiraçu e João Neiva de 1954 a 1983. Durante esse período, criaram escolas - 5 em Ibiraçu e 4 em João Neiva-, hospital, instituições, construíram igrejas e conduziram o povo como sacerdotes e pastores, dentro dos princípios cristãos e católicos.
Vários padres, irmãos e irmãs combonianos atuaram nesse período em nossos dois municípios, que eram naquele tempo um só. O primeiro desses padres foi Francesco Marchi Aletti, o chamado padre Francisco. Ele foi pároco de Ibiraçu de 1954 a 1958 e acumulou com João Neiva nos anos de 1955 e 1956. Foi nosso primeiro pároco comboniano.
Padre Francisco foi um sacerdote muito rigoroso e trabalhador, sempre atuando dentro dos princípios da Igreja tradicional, dando muito valor à evangelização, aos sacramentos e à moral. Com esse rigor, ele não concordou com os rumos tomados pela Igreja após o Concílio Vaticano II, no início dos anos de 1960, e abandonou o sacerdócio em 1971.
Ao abandonar o sacerdócio, ele se casou com sua antiga empregada da casa paroquial de Ibiraçu, Dono Isaura Cuzzuol, mudou-se para a Itália, onde foi empresário e professor.
Mesmo não exercendo o sacerdócio, Francesco foi sempre um homem de muita fé e ligado à Igreja. Dedicou-se de forma intensa ao trabalho nas paróquias onde residiu.
Tempos atrás, li este livro da foto, de autoria do padre Francisco. Ele foi editado no ano de 1967, em Portugal. É um livro de pequenos contos recolhidos e escritos no período em que o autor foi missionário no Brasil. Certamente, alguns dos contos foram inspirados nas nossas terras dos municípios de Ibiraçu e João Neiva. A leitura é muito agradável, escrita muito simples, objetiva e talentosa.
Este fato que vou narrar não se encontra no livro, mas até hoje se ouve entre os moradores de Ibiraçu. Conta-se que padre Francisco, não concordando com a realização de um baile na cidade, invadiu, altas horas da noite, a sala da residência onde os jovens dançavam, ajoelhou-se no meio da rapaziada, abaixou a parte superior da batina, deixando as costas nuas e, com um chicote de açoitar animais, se autoflagelou a ponto de sangrar. Gritava durante o ato: “pecado! pecado! pecado!” Os jovens ficaram atônitos, terminaram o baile e foram assustados para casa.
Francesco Marchi Aletti faleceu na província de Varese, na Itália, em 2012, aos 91 anos.
Agradeço aos amigos João Batista Trazzi e Célia Trazzi pela colaboração na pesquisa.