Coluna Geremias Pignaton: Um imenso funeral
Se não foi o maior, seguramente foi um dos maiores funerais da história ibiraçuense.
Em 1892, chegou da Itália um parente mais jovem do poderoso Cesare Guidetti. Não era um filho, não era um irmão, ainda estou procurando a relação de parentesco, mas acredito que era um sobrinho.
O jovem, por volta de 20 anos, chamava-se Umberto Guidetti. Por tudo que se viu, veio para ajudar o “tio” na lida com os negócios que se avolumaram. Ele possuía lojas em Pau Gigante, Córrego Fundo, Santa Cruz, Demétrio Ribeiro, Acioli e Vitória. Na capital, possuía ainda um hotel de grande prestígio. Atuava também no ramo da construção civil. No comércio, comprava e vendia café e importava produtos da Itália natal: vinhos, licores, bebidas finas, sapatos, roupas, perfumes, joias... Era um homem de negócios conhecido em todo estado, na capital federal e na Itália. O “sobrinho” era um sujeito muito capacitado e inteligente, seria muito útil na administração de todo esse movimento.
Em abril de 1895, o “tio” morreu após um mal súbito. Tudo indica que foi vítima de um infarto, morte prematura aos 41 anos, quando ocupava o posto de prefeito de Pau Gigante (Ibiraçu). Deixou a viúva Giacinta Guidetti com a fortuna, herdada após um casamento “in extremis”, segundo o povo de então, com o noivo já duro de morto. Contudo, também deixou o jovem “sobrinho” para ajudá-la a tomar conta dos bens.
Os negócios da “tia” e do sobrinho iam muito bem. Seguiam sob a batuta do jovem Umberto, com a supervisão severa de Giacinta.
Umberto passou também a exercer a função de juiz substituto em Pau Gigante, que naquele tempo pertencia à comarca de Santa Cruz. Há também notícias de que funcionava como representante de nossa região junto ao consulado da Itália, no Rio de Janeiro. Ele, pela sua inquestionável capacidade, escalava a sociedade local com desempenho invejável, mesmo vindo da Itália e chegado pouco tempo antes.
Segundo minhas pesquisas, esses Guidettis eram de Malalbergo, na divisa das províncias de Bologna com Ferrara, na região italiana da Emília Romagna. Não se confundir com os Ghidettis, que também viraram Guidetti no Brasil, pela confusão na escrita e na pronúncia, mas que são outra família, essa vinda de Viadana, na província de Mantova, região da Lombardia.
Eis que mais uma vez a morte veio surpreender.
No dia 31 de agosto de 1903, às 9h da manhã, morreu, aos 31 anos, o jovem Umberto, vitimado, segundo o laudo do óbito, por “Morbus de Bright”, uma doença renal.
No dia seguinte, 1º de setembro de 1903, foi sepultado no cemitério de Pau Gigante, ao lado do “tio”, que havia morrido 7 anos antes. Esse funeral foi bastante concorrido, conforme foi noticiado no jornal de Vitória “O Estado do Espírito Santo”, dias depois. Havia 13 coroas de flores sobre o caixão, enviadas até por italianos.
Temos certeza de que as mortes prematuras dos dois Guidetti foram péssimas para Pau Gigante.
Nas fotos deste post, a matéria do jornal com o título "Pelo Estado" e a certidão de óbito de Umberto, extraída dos registros do cartório de Ibiraçu.