Indígenas de Aracruz desmentem áudio sobre ônibus fretado para atos golpistas em Brasília

Indígenas de Aracruz desmentem áudio sobre ônibus fretado para atos golpistas em Brasília

O que estão compartilhando: áudio que afirma que a primeira-dama, Janja Lula da Silva, alugou um ônibus para a população indígena de Aracruz, em Espírito Santo, participar dos atos golpistas do dia 8 de janeiro em Brasília.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não há evidências para as afirmações feitas no áudio. A reportagem conversou com caciques e representantes das aldeias indígenas em Aracruz, que não reconheceram a voz e negaram ter feito frete para Brasília. A assessoria de Janja classificou o conteúdo como “fake news”.

Saiba mais: O material circula no Facebook e tem mais de 984 mil visualizações. A voz não cita nenhuma fonte de onde teria surgido a informação de que Janja teria fretado um ônibus com indígenas “infiltrados”.

No áudio, uma mulher diz: “Eu estava tentando contato com o índio daqui do Estado para Terceira Ponte, de Aracruz, para apoiar a gente. Eles vão estar em Brasília contra os patriotas, eles vão estar contra os patriotas. A Janja vai mandar um ônibus para Vitória, para Aracruz para pegar esses índios”.

O Estadão Verifica enviou o áudio para lideranças das 12 aldeias de Aracruz (ES) e perguntou se reconheciam a voz:

Nova Esperança - Guarani

Boa Esperança - Guarani

Piraquê-Açú - Guarani

Olho D’Água - Guarani

Amarelos - Guarani

Areal - Tupiniquim

Aldeia Indígena Três Palmeiras - Guarani

Pau Brasil - Tupiniquim

Comboios - Tupiniquim

Caieiras Velha – Tupiniquim

Irajá - Tupiniquim

Córrego do Ouro- Tupiniquim

Marcelo Weradjekupe, da aldeia Nova Esperança, disse que “ninguém conhece essa mulher” e que não é verdade que “os índios estão se organizando para ir para Brasília para lutar contra patriotas”.

Marcelo explicou que faz parte de uma comissão de caciques formada por ele e pelas lideranças das aldeias Boa Esperança, Piraquê-Açú, Olho D’Água, Amarelos e Areal e afirmou que eles protestam por direitos e não para atacar pessoas ou patrimônios. Na opinião dele, o boato foi espalhado por aqueles que são contrários a causas indígenas.

“Quando houve a votação da PL 490 pelos deputados, os indígenas protestaram como qualquer cidadão”, disse. “Qualquer pessoa que tem os seus direitos assegurados na Constituição Federal e os seus direitos ameaçados tem direito de protestar”.

O vice-cacique da aldeia Pau Brasil, Lindomar Jose de Almeida Silva, mais conhecido como Lydio Tupinikim, destacou que não reconhece a voz no material ou movimentos que foram a Brasília “combater os patriotas”. Ele afirmou que nunca houve contato com a primeira-dama por parte dos caciques de Tupinikim e Guarani — apenas conhecem a Janja pela televisão.

Da aldeia de Três Palmeiras, a reportagem conversou com Rosângela Marques, conhecida como Djatxuka Indiginas, que comentou não reconhecer a voz e nem as informações compartilhadas no áudio.

Em Comboios, o cacique Toninho da aldeia Tupinikim definiu o conteúdo que circula no Facebook como uma “grande mentira contra a população indígena”. O cacique da aldeia Caieiras Velha, Vilmar De Oliveira, também disse desconhecer a autora do áudio.

Caciques de Irajá e Córrego do Ouro não responderam ao contato do Verifica.

A primeira-dama classificou o conteúdo como falso e disse ser alvo de desinformação machista. “A produção e circulação de fake news envolvendo Janja Lula da Silva é uma estratégia comum a grupos que não se conformam com a presença de mulheres em espaços de poder”, disse a equipe de Janja em nota. “Estas mentiras e ataques são evidências muito fortes da misoginia que circula pelas redes sociais e impactam a democracia”.

Os atos golpistas do dia 8 foram realizados por infiltrados?

O Estadão já demonstrou que a teoria de que havia infiltrados de esquerda nos atos golpistas do dia 8 de janeiro em Brasília não tem base factual. Com a análise de 26 horas de lives, além de fotos, mensagens, publicações nas redes sociais e listas de passageiros de ônibus, o Estadão identificou 88 pessoas identificadas com o extremismo durante a ação bolsonarista — todos eram apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Há publicações em redes sociais convocando bolsonaristas para a participação da invasão em Brasília. Os apoiadores do ex-presidente utilizavam o código de “Festa da Selma” para falarem sobre o ato na sede dos três poderes